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Rogério Gulart nunca pensou em viver na cidade. Nascido e criado no campo, filho de administrador de fazendas, disse que sempre sonhou em seguir os passos do pai em meio aos rebanhos de corte, no noroeste do Paraná.
Anos depois, ele realizou o desejo de ser administrador de fazendas. Atualmente, disse ter uma rotina de muito trabalho, mas bem tranquila.
“Não trocaria [pela vida na cidade]. Esse barulho do campo, dos animais, dos pássaros, dos insetos, é fantástico. Não me sinto bem na cidade. Só vou por necessidade. Não gosto. Daqui há vinte anos, quero estar do mesmo jeito que estou hoje”, disse.
Agricultores dizem que não trocam a vida no campo pela na cidade — Foto: RPC/Divulgação
Segundo Gulart, ele começa o dia quase sempre do mesmo jeito: escutando rádio e com um café forte para espantar o sono logo cedo.
“Eu segui o caminho do meu pai e é isso que me motiva. Meu pai também tinha essa profissão e resolvi seguir o caminho dele. A minha família toda convive no campo. Alguns, que foram obrigados a ir para a cidade, querem voltar para o campo, mas hoje está mais difícil conseguir”, contou.
Enquanto na cidade muitos reclamam que o relógio parece andar mais rápido, Gulart disse que no campo tem uma sensação bastante diferente.
“ No campo o tempo passa lentamente. Eu nem uso relógio, porque o tempo passa praticamente parado aqui.”
Para ele, esse ritmo não é um problema, pelo contrário, mostra que é preciso seguir o tempo da natureza.
Rogério ama a vida no campo desde criança, no noroeste do Paraná — Foto: RPC/Reprodução
Aos 50 anos, o administrador soma 39 de trabalho no campo. Ele lembra que começou a trabalhar quando tinha apenas onze anos de idade e tem orgulho da trajetória percorrida.
O trabalhador rural disse que o contato com os bichos da fazenda e a possibilidade de ver animais silvestres é uma das situações mais gratificantes de quem vive na zona rural.
Tecnologia domina o dia a dia do agricultor
A família Penteado, de Paranavaí, no noroeste do Paraná, respira 24 horas a vida no campo. Tradição que ultrapassa as gerações.
46 anos atrás, o pai João Manoel Penteado Filho começou a criação de gado.
Atualmente, o filho dele, Flávio Aguiar Penteado, segue tocando a propriedade da família, cheio de orgulho das próprias raízes.
“Aqui vivem três gerações de pessoas que são apaixonadas pelo campo. Meu pai e minha mãe, minha esposa e eu, que sou a segunda geração, e minha filha. Somos todos apaixonados pelo que nós fazemos”, disse o filho agricultor.
Família Penteado passa a tradição na vida do campo por três gerações, em Paranavaí — Foto: RPC/Reprodução
O agricultor João Manoel lembra que, no início, a vida no campo era muito mais trabalhosa do que atualmente:
“No começo era muito difícil. Eu sempre fui um cara que procurava caprichar com meus animais, mas não tinha a tecnologia de hoje. Para tirar o leite, era na mão. Para tratar, era difícil. Não tinha com o que tratar o gado. Não existia ração. Era só com pasto. Hoje temos gado sendo vendido até para Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso. Então, nós temos uma genética boa hoje”, disse o pai.
Se a vida na cidade mudou muito nos últimos anos, principalmente com a digitalização e a internet, no campo a situação não é diferente.
A imagem de um agricultor distante, desconectado das novidades, é coisa do passado em boa parte das propriedades rurais paranaenses.
A produção de hoje está bem distante do que o pecuarista tirava, naquela distante década de 1970. Hoje, a família Penteado produz 1.500 litros de leite por dia.
“A gente saiu de uma ordenha que era muito difícil, toda feita manualmente. Já faz bastante tempo que a gente tem a ordenha mecânica, resfriadores e isso vem melhorando a qualidade do leite que é entregue na cidade. A produção de comida para o gado, que é um gargalo para o produtor rural de todo o Brasil, independentemente do tamanho do produtor, a gente também buscou uma solução. Nós compramos o maquinário e a gente mesmo produz o alimento para o nosso rebanho”, disse Flávio.
Produção de gado era mais difícil na década de 1970 — Foto: RPC/Reprodução
Ela também lembra que para aumentar o plantel era muito mais complicado. Hoje a família domina técnicas de inseminação artificial.
Flávio faz parte da Associação Nacional da Raça Jersey, o gado criado pela família. De tempos em tempos, ele viaja para outras fazendas, inclusive no exterior, em busca de melhorias para a criação da raça.
“Não se faz mais nada no campo sem tecnologia. Hoje o acesso ao produtor, desde o pequeno ao médio e ao grande, está aí. É só ir buscar. Existem programas do governo que dão assistência técnica. É só procurar. Você procura na internet, você acessa e pega a informação que precisa e isso é importante.”
Com os negócios de vento em popa, Flávio já pensa em repassar para a próxima geração os ensinamentos que começou a aprender com o pai.
“A alegria de uma pessoa é estar ao lado do seu pai, da sua mãe e da sua família e ver que que você tem uma filha que também é apaixonada por isso. Isso mostra que nós só temos a crescer. Torço para que o filho ou a filha dela continue na pecuária e que meu neto e meu bisneto continuem também para o resto da vida deles”, contou Flávio.