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PodParaná #61: A história de Maria Bueno, de anônima na sociedade curitibana à santa popular após ser assassinada


Em 29 de janeiro de 1983, a jovem Maria Bueno tinha sua vida ceifada a navalhadas onde hoje está localizada a Rua Vicente Machado, em Curitiba. Anônima socialmente, sem família ou amigos para reivindicarem seu corpo, foi enterrada em cova rasa, como indigente.

E se o destino trágico reservou a Maria Bueno uma saída prematura deste plano, no imaginário social ela permanece viva há tanto tempo que se tornou, popularmente, uma santa.

Maria Bueno foi morta há quase 130 anos — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal Clarissa Grassi

Maria Bueno foi morta há quase 130 anos — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal Clarissa Grassi

Nesta sexta-feira (21), a edição 61 do PodParaná conta a história de Maria da Conceição Bueno, que além de milagreira, é um dos símbolos de luta pelo respeito às mulheres do estado.

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PodParaná: toda sexta-feira um novo episódio — Foto: Arte/RPC

PodParaná: toda sexta-feira um novo episódio — Foto: Arte/RPC

A história da santa popular de Curitiba foi e é tema de muitos estudos, entre eles, os de Clarissa Grassi, pesquisadora cemiterial e responsável pelas visitas guiadas onde hoje está a capela dedicada à memória de Maria Bueno, no Cemitério Municipal São Francisco de Paula, o mais antigo da capital paranaense.

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Em seus estudos, com os poucos documentos disponíveis sobre o tema, se aprofundou no conto que muitos já reproduziam: Maria Bueno foi morta a navalhadas pelo seu então amante, o soldado Inácio José Diniz. Alguns dizem que ela foi assassinada com ferimentos no pescoço, outros, que foi degolada, teoria mais acreditada e divulgada entre fiéis.

“Ela é um grande ícone do cemitério municipal, justamente por essa áurea sobre dela […] Mas o que nós temos de fatos concretos, são poucos. É uma história que é contada de boca a boca, e aumentada, distorcida, como toda história de milagreiro. O que nós sabemos efetivamente é que ela era uma anônima que morava em Curitiba, era de Morretes, e vai ser tornar pessoa pública a partir do seu assassinato, na rua Campos Gerais, que hoje é a Vicente Machado, entre a Visconde de Nácar e a Visconde do Rio Branco”.
Capela da milagreira é considerada ponto turístico — Foto: Clarissa Grassi

Capela da milagreira é considerada ponto turístico — Foto: Clarissa Grassi

Diniz, como conta Clarissa, foi acusado pela morte de Maria Bueno, julgado e inocentado. Anos depois, entretanto, foi morto por um dos chefes da Revolução Federalista, que estava em Curitiba e se revoltou com o fato do militar ter assassinado um comerciante em uma tentativa de roubo.

A execução do ex-amante de Maria Bueno, pelos relatos apurados, foi por degola.

“Seria a síntese perfeita. Teve o mesmo fim que imputou a Maria Bueno, que foi a degola. Mas não sabemos, ao certo, se realmente foi isso que aconteceu. Não há documentação suficiente que comprove”.

Apesar de não ser claro o momento em que Maria Bueno começou a ser cultuada, segundo a pesquisadora Júlia Koster, foi a partir da morte de Diniz que a fé pela santa popular ganhou força.

Capela de Maria Bueno recebe intenções de fiéis de todo o estado, que fazem os mais variados pedidos — Foto: Divulgação/Clarissa Grassi

Capela de Maria Bueno recebe intenções de fiéis de todo o estado, que fazem os mais variados pedidos — Foto: Divulgação/Clarissa Grassi

“Nesse contexto é que surge a fé popular. Que fala ‘olha, se em casa não se resolveu, se a justiça não foi aplicada para quem cometeu o crime, somente a fé, o divino, esse sim, para nada é escondido de seus olhos’. Tudo culminou para que o algoz de Maria Bueno não fosse justiçado, mas, em compensação, a justiça divina se fez presente. Aí começa a nascer essa santidade”, explicou Júlia.

Maria Bueno sintetiza o que Clarissa e outros pesquisadores chamam de devoção marginal, ato em que pessoas comuns, após a morte, ganham a veneração de fiéis.

Mas conforme mais pessoas conheciam a hoje santa popular, mais sua história era alterada para caber dentro de padrões sociais. Um dos pontos destacados por Clarissa é referente a cor de Maria Bueno.

“Maria Bueno era parda. Mas se nós olharmos as imagens dela ao longo do tempo, a gente vai ver que houve um branqueamento dela. Muitas vezes, ela é retratada, inclusive, com os olhos azuis”.
Desenhista Fulvio Pacheco retratou Maria Bueno como os pesquisadores relatam sua aparência — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal Clarissa Grassi

Desenhista Fulvio Pacheco retratou Maria Bueno como os pesquisadores relatam sua aparência — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal Clarissa Grassi

Mas Maria Bueno não é a única mulher considerada santa popular no estado.

O episódio 61 do PodParaná também aborda um pouco da história de Corina Portugal, vítima de violência doméstica, em Ponta Grossa, que inspira a fé principalmente de mulheres.

Mulheres deixam legado de combate contra violência física e psicológica

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O PodParaná tem episódios semanais que contam a história de moradores do estado e trata de temas importantes para os paranaenses. Para sugerir temas e interagir com a equipe, os ouvintes podem usar o aplicativo Você na RPC.

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Fonte: G1


21/01/2022 – Rota do Sol FM

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