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O rodízio no abastecimento de água que vigorou em Curitiba e região metropolitana por 19 meses fez com que moradores encontrassem formas de economizar o recurso. O uso racional da água, inclusive, foi um dos fatores apontados pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) como decisivos para que o rodízio pudesse ser suspenso a partir desta quarta-feira (19).
Para Ubiratan Faria, morador de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba(RMC), o cuidado com o uso da água também impactou no bolso.
“A economia é muito importante e mesmo sem rodízio vou manter, sempre. Aqui em casa, somos em duas famílias, a gente gastava cerca de 17m³ por mês. Depois de começar a economizar por causa do rodízio e da falta de água, diminuímos a conta para 11 ou 12 [m³]. Então é cuidado com o meio ambiente, mas também economia no bolso”, contou.
Na casa do aposentado de 60 anos, a água da máquina de lavar roupa passou a ser reutilizada por uma bomba de imersão comprada pela família. Depois, ela é reaproveitada para a limpeza de calçadas.
Veja, no vídeo acima, dicas para economizar água.
Assim como ele, a curitibana Karin Meira também é adepta à economia de água. Há três anos, antes mesmo do rodízio, ela passou a colocar uma garrafa PET de dois litros dentro da caixa da descarga.
Com isso, cada vez que a descarga é utilizada, uma economia de dois litros de água é feita.
No apartamento onde mora, Karin também fez novas adaptações depois que o abastecimento de água sofreu modificações por conta da falta de chuvas na região.
O banho passou a ser mais curto e a água utilizada no tanque também foi guardada para limpeza do chão.
“No condomínio temos poço artesiano, então não chegamos a sentir a falta de água. Mas vi minha mãe, conhecidos, passarem por dificuldade. Poder lavar roupa em um dia específico, ficar se programando, então, não é uma questão só minha. A gente vê tanta gente sem, precisando”, ressaltou.
A representante comercial também afirmou que, mesmo com a normalização do abastecimento em Curitiba e região, os cuidados serão mantidos.
Relembre início do rodízio e como ficaram os reservatórios durante período de estiagem
O rodízio no abastecimento de água em Curitiba e região foi suspenso após quase dois anos. O anúncio aconteceu depois dos reservatórios que compõem o Sistema de Abastecimento Integrado (SAIC) atingirem nível médio de 80,34% da capacidade nesta quarta.
O fim do rodízio foi oficializado em coletiva de imprensa. Na coletiva, Claudio Stabile, diretor-presidente da companhia destacou a importância da colaboração dos usuários na recuperação dos níveis dos reservatórios.
“Foi uma lição muito grande, porque ninguém tinha passado por isso antes. Tivemos a escassez hídrica com a pandemia. Hoje, temos um desses problemas resolvido. Além do agradecimento à população, precisamos que ela continue agindo de forma consciente, com o uso racional da água. Muitas pessoas se adaptaram, mas claro, se nós temos água, porque continuar com o rodízio? Não faz sentido”, afirmou.
Stabile informou que, até 16h de sexta-feira (21), o abastecimento terá 100% de normalização para todas as regiões abastecidas pelo SAIC, que passam pelo rodízio.
“Neste ano, com certeza, não voltamos ao rodízio”, ressaltou o diretor-presidente da companhia.
Conforme a companhia, somente 20% da cidade de Colombo deve continuar em rodízio, porque nestes pontos o abastecimento ocorre via poços e não pelo sistema que atende as outras localidades.
O governador Ratinho Junior (PSD) participou do anúncio e reforçou que a economia de água deve continuar: “É importante a população não perder esse hábito conquistado, evitar o desperdício. O hábito que tem que se transformar em cultura, é fundamental”.
Suspensão do rodízio de água em Curitiba e Região Metropolitana foi anunciada em coletiva, nesta quarta-feira (19) — Foto: Barbara Hammes/g1 PR
O sistema de rodízio havia sido adotado pela companhia em 17 de março de 2020, inicialmente para a região sul de Curitiba, Fazenda Rio Grande e São José dos Pinhais, devido à baixa vazão do Rio Miringuava.
No mês de início do racionamento, o volume médio foi de 62,57%, conforme dados da Sanepar.
Em 18 de maio do mesmo ano, o sistema foi estendido a toda região metropolitana. Em agosto, o rodízio ficou mais rígido – com um dia e meio de corte e um dia e meio com água na torneira.
No mês de março de 2021, a Sanepar divulgou um esquema de rodízio do abastecimento, em que a população ficou com 60 horas de fornecimento e 36 horas com suspensão. O volume médio mensal ficou em 60,48%, mas caiu nos meses seguintes.
Em agosto, com as barragens em 47,5%, a companhia voltou a adotar o esquema de 36 horas com e sem água. Em outubro, com as chuvas acima da média, o nível das barragens subiu, mas o racionamento foi mantido no mesmo esquema.
Em novembro do ano passado, depois de um período com mais chuvas em outubro, o rodízio foi novamente abrandado, após os reservatórios chegarem perto de 70% da capacidade total.
Por conta do aumento do nível dos reservatórios, desde segunda-feira (17), o rodízio passou a ser de 84 horas com fornecimento de água e 36 horas sem abastecimento. A mudança não atingiu parte das cidades de Almirante Tamandaré e Colombo, que permaneceu com rodízio em horários diferentes.
Rodízio no abastecimento de água acaba em Curitiba e região, diz Sanepar — Foto: Giuliano Gomes/PR Press
Em Curitiba e região, o abastecimento de água é feito por quatro reservatórios: Passaúna, Iraí, Piraquara I e Piraquara II. Os quatro são interligados.
A água sai dos rios que nascem na Serra do Mar, que dependem de preservação ambiental e de chuvas.
Fazendo uma conta simples, somando o volume de cada uma das represas e dividindo por quatro, esse percentual de 80% já tinha sido ultrapassado há alguns dias.
Contudo, o cálculo do volume total das barragens que compõem o SAIC leva em conta o volume individual de cada uma delas, fazendo assim a média ponderada.
Como cada barragem tem um volume diferente, cada uma contribui para o total de forma diferente também.
Por exemplo, mesmo que a Piraquara II fique completamente cheia, a capacidade de reservação não chega nem a metade da barragem do Iraí. Veja abaixo a capacidade de cada um dos quatro reservatórios.
Capacidade dos reservatórios de água da Região de Curitiba
Barragens abastecem dez municípios
Fonte: Sanepar
Em 11 de novembro de 2020, o nível das barragens do SAIC chegou a 26,77%, o menor patamar desde a implantação do rodízio. Em 20 de dezembro do mesmo ano, o número ainda era baixo: 40%, e a média do mês foi de 41,22%.
Um estudo de projeção realizado pela Sanepar, considerando a média de consumo e também as chuvas que ocorreram no período, mostrou que sem as ações que fazem parte do “Programa de Gestão de Crise”, a falta de água poderia ser ainda mais crítica no mês de outubro de 2020, quando o nível das quatro barragens que atendem a região chegaria a 9,6%.
Em abril do ano passado, o nível começou a subir um pouco mais e atingiu mais de 57,26%, com média mensal de 55,01%.
Durante o período de rodízio, a companhia chegou a anunciar que para o fim do rodízio era necessário que os níveis dos quatro reservatórios do sistema estivessem, na média, acima dos 60%.
Entretanto, Julio Gonchorosky, diretor de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, admitiu que o comunicado à população sobre os 60% foi um erro. “Em algum momento a gente acabou comunicando que talvez fosse o fim do rodízio e foi uma falha”.
Em outubro de 2021, os reservatórios de água voltaram a atingir níveis de mais de 60%. A média no mês foi de 59,08%.
As chuvas deste início de ano têm reforçado a recuperação dos reservatórios — Foto: José Fernando Ogura/AEN
Os níveis das barragens vinham mantendo o nível médio acima dos 70%, desde 6 de janeiro.
De segunda para terça-feira (18), o nível médio dos reservatórios subiu de 76,92% para 79,40%, devido à frequência de chuvas.
Confira, abaixo, os níveis nesta quarta-feira, por unidade:
Sistema que passa água da Pedreira do Orleans para o Rio Passaúna — Foto: Weliton Martins/RPC
* Com a colaboração de Lucas Ravel, assistente de produtos digitais do g1 Paraná.